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28/02/10

Afrodite


Clarão escarlate que
Irrompe no Monte Olimpo
Espalha-se pelas frestas das casas
Da cidade que jaz em festa

Musas de cabelos loiros
Peles alvas e seios fartos
Ninfas da floresta
Envoltas em nesgas de seda

Nádegas carnudas
Conduzidas por másculos guerreiros
Possuídas em tendas coloridas
Sob olhares sedentos das jovens damas

Debaixo de tochas, incenso e vinho
Sem pudor as virgens se entregam
Aos braços viris que seguram seus seios
Arrancando-lhes beijos ardentes

Sob as tochas que ardem lentamente
Corre uma aragem distinta
Pele alva de olhar intenso
A mais bela das Deusas a chegar

Tez luzidia rija pelo desejo
Estonteante mulher
Despindo-se diante dele
Volúpia em pessoa gemendo no mundo inteiro

Mas eis que irrompe um trovão na madrugada
Estremecendo todo o Monte Olimpo
Surge Zeus enfurecido
Instigado pela Hera

Tremem mares e montanhas
Atraiçoando os amantes desacautelados
Afrodite e Ares separados
Condenados para a perpetuidade

A primeira estrela reluziu
Aprisionada ao firmamento
Uma outra vermelha a seguiu
Deslumbrado com a sua beleza

Assim condenados os dois amantes
Separados pela eternidade
Brilham um para o outro
Isolados, infelizes e distantes


Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

25/02/10

Sonhos de um corpo nú


É de manhã que eu me visto
Com os sonhos imaginados.
Traço nos olhos um risco delicado
Feito da luz que adorna a minha sede de sonhar.

Bate o tempo
Nesta espera inquieta
Deliciosa e provocadora
Tentação aos meus sentidos

Voam sussurros
Que o sonho canta
Fios entrelaçados
Dos lábios humedecidos

Voraz desejo que desespera
Vontade rouca e sincera
De envolver este sonho
Na paz de um amor puro

À noite,
Reinvento os sonhos de dia trajados
Sob a luz da lua
Por mim
Repetidamente sonhados.



Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

Versos no meu corpo


Sopra um poema
Desnudo no meu corpo
Caminho gravado em mim
Sob o silêncio da lua

Versos sensuais
Em ondas de paixão
Intensa volúpia
Escrita na minha pele

Forte desejo
Dedilhado com luxúria
Implorado na tua boca
Estrada insaciável de amor

Ardentes chamas
Provocadas por teus beijos
Vontades supremas
Queimando meus segredos

Teu olhar quebra quimeras
Invade a privacidade latente
Do meu corpo excitado
Estrofe lasciva de cobiça

Quero para mim
Esse poema esquecido
Essência derramada
Sorvida no prazer

Sopra um poema
No meu peito aberto
Que escorre molhando o papel
Dos versos gravados no meu corpo




Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados

18/02/10

Indelével



Quando me tocaste
E eu te senti,
As palavras saíram loucas
Desenfreadas, desgovernadas
Atabalhoando-se na minha boca

Lutei para as prender
E travar o turbilhão
Contacto suave e indelével
Cândida erupção
Que em mim rompeu

Roguei às palavras despegadas
Que se emparelhassem
Ao toque da melodia divina que conheci
Ordenei-as num branco imaculado
E poesia, senti.



Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

Quebranto de amor


No remanso dos teus braços
Meu amor, quero minha alma repousar
Abraça-me sem trégua
Abate esta saudade que me fustiga
Cala o silêncio com que me trajo

Arde de febre meu corpo
Trémulo, inquieto por te sentir
Percorro teu rosto na escuridão da memória
De dia e de noite, tormento meu
Desejo que me atinge como um açoite

Impudico desejo que me enlaça
Me consome e me abate
Clama vorazmente por teu ardor
Suspenso neste quebranto
Onde espero por ti, meu amor

Quero no remanso dos teus braços
Apaziguar a paixão que me devora
Que me transforma numa onda
Mareando em mil suplícios
Que me amarra o entendimento

No fundo dos teus olhos
Desamor quero afogar
Espero em devaneios meus
Este anseio apaziguar, a ti me entregar
Rio com rumo ao mar


Maria escritos
© Todos os direitos Reservados



Imagem: "Erotic Ballet Boots" de John Tisbury

10/02/10

PENJING - Exposição


A Filantrópica- Cooperativa da Cultura da Póvoa de Varzim, tem a honra de convidar V. Exa para a inauguração da exposição "PENJING" - Um olhar sobre bonsais, da autoria de Paula Da Rocha Moreira (Maria Escritos), no próximo dia 1 de Março às 21.30h. A exposição de bonsais elaborados com missangas, estará patente ao público até dia 15, com entrada livre e gratuita.

De salientar que 10% das verbas desta exposição revertem a favor de uma família extremamente carenciada de momento.

04/02/10

Quando vires uma estrela no céu...


Tenho uma história para contar. É verdadeira e passou-se há muitos anos atrás. Contudo, guardo ainda na memória a lição que me foi dada, e procuro dá-la na mesma proporção e medida da que me foi dada a mim. Se assim não fosse, não faria sentido.
Admito porém que nas horas em que me encontro mais alterada, nem sempre me lembro deste ensinamento. Afinal, sou simplesmente humana!


Eu devia ter os meus 18 anos, à volta disso. Trabalhava como empregada de mesa num restaurante. Nessa profissão, como noutra qualquer, conheci muita gente. Algumas simpáticas e extrovertidas, outras nem por isso. Com a clientela certinha quase diariamente para almoçar, é normal que se acabe por criar empatia com determinadas pessoas, que chamam a nossa atenção na maioria das vezes, por um simples e minúsculo pormenor.

Havia um casal de namorados que ia jantar lá todos os dias. Recordo-me do nome do senhor - o Rui. O nome dela nunca soube, nem nunca olharia para mim, tão fina e elegante era a senhora. O Rui era diferente, sempre atencioso e educado. Sempre atento ao mais ínfimo pormenor e era aquele tipo de pessoa como nós costumamos dizer, daqueles que têm carisma. Era assim o Rui, um autentico “gentleman”.

Um dia, o Rui apareceu sozinho para jantar. Perguntei-lhe se estava à espera da senhora. Ele disse que não. Nesse dia, o Rui não parava de me fitar em silêncio e recordo-me dele me ter perguntado se estava tudo bem comigo, pois que muitos suspiros mudos ele estava a escutar.

Senti-me aparvalhada, como é óbvio e apenas me ocorreu dizer que estava tudo bem, apesar do meu olhar me trair e gritar que eu mentia.

O Rui demorou imenso tempo a jantar e foi ficando até a hora de fechar o restaurante.

Educadamente, perguntou-me como ia eu para casa aquela hora tardia da noite. Se alguém me ia esperar. Comecei a estranhar e a desconfiar. De repente senti pânico.
Porquê tanta pergunta e tanta preocupação sobre mim? A minha mente gritava que o Rui era gente boa, mas o peito tinha o coração aos saltos assustado e com medo.

Fui obrigada a aceitar a boleia dele para casa. Tive medo e sentia-me desconfortável e piorou este sentimento quando o Rui me disse que antes de me levar a casa, íamos a um sítio especial, e que ele tinha de me levar lá.
Eu estava em pânico. O terror de me acontecer algo às mãos de alguém por quem durante meses tive na mais alta consideração, deixou-me a tremer da cabeça aos pés.
Durante todo o caminho segui muda e calada pensando apenas numa solução para fugir em caso de perigo.
Sei que o Rui foi falando da vida dele, mas confesso que o medo que eu sentia era tanto que não me recordo de nada do que ele disse.

Ao fim de 15 minutos de viagem, estacionou o carro mesmo em frente á praia.
Mau! Disse para os meus botões…
- Podes sair do carro, por favor? – Disse ele.
- Como? Está frio lá fora! - Disse eu tentando ganhar tempo.

O Rui saiu do carro e eu segui-o. Ele estava tranquilo, eu, apavorada. Ao aproximar-se dum muro que separa a areia do passeio, ele deitou-se de barriga para o ar, ficando de olhos fixos no céu.
- Deita-te aqui, disse ele.
Desconfiada, mas com medo dele caso não obedecesse, acabei por me deitar o mais afastado dele que pude. Na minha cabeça rodopiavam mil e uma ideias sobre as intenções dele, que me deixavam tonta.
Acabei por fitar também as estrelas. Apesar do vento frio o céu estava estrelado e a sua luz espelhava-se nos nossos rostos. Ao longe ouviam-se as ondas do mar que teimavam em bater na areia.
O peso do silêncio que se instalou foi cortado pela voz do Rui.
- Eu não quero saber quais são os teus problemas porque os problemas deixam-nos sempre tristes. Não quero saber da tua vida mas preocupa-me o que possas fazer com ela. Peço-te que olhes bem de frente as estrelas, que imagines e calcules bem o tamanho de uma delas para poderes comparar os teus problemas com o tamanho dessa estrela.
Comecei e fazer a comparação. Quanto mais me apercebia do tamanho da estrela que eu escolhi, mais pequenos me pareciam os meus problemas. Mantive-me em silêncio mas devo ter soltado um suspiro de alívio pois o Rui continuou:
- Tu és maior que os teus problemas e a estrela é maior do que tu. Agora compara a estrela com o universo. È infinito, não é? E o que representas tu perante este universo carregado de milhões de estrelas e planetas?
Foi quando me apercebi da dimensão real da minha preocupação.
Apesar de na minha mente se ter formado a ideia de que eu não passo de um mísero grão de areia comparada com o universo, nesse dia, o Rui mostrou-me que mesmo assim eu sou maior que os meus problemas, e esses mesmos problemas, por maiores que eles sejam, não são nada quando comparados com a grandeza do infinito.
Compete-me a mim, este simples grão de areia manter os problemas no seu devido lugar.

Naquela noite voltei a casa mais leve e mais aliviada pois aprendi que nem tudo o que parece, é!! Aprendi ainda a confiar um pouco mais nos ilustres desconhecidos que têm a capacidade de ler um simples olhar.
Naquela noite, regressei a casa mais rica. E o Rui nunca mais se ofereceu para me levar a casa!!



Maria Escritos
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