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28/11/09

Suspiro gotas


Suspiro gotas
Entre sedas e cetim
Num bailado de cadencias distantes
Dos desejos incontidos

Suspiro gotas
Entre o roçar da pele
Sob o incenso vaporoso
Da sedução do amor

Suspiro gotas
Na dança de corpos desnudados
Entre a chama sibilante
Do aroma que paira no ar

Arrepios saem
Num ápice entre gemidos
Da inconsistência bruta
Dessa ânsia que assenta em mim

Suspiro gotas
Gemidos saem
Estremecimentos expelidos
Numa dança sem fim


Maria Escritos
Todos os direitos reservados

27/11/09

Guardo


Guardo-te sobre os dedos
No parar do tempo
Na calma com que toco a pele hoje despida

Guardo-te no olhar
Como a luz das manhãs
E a força dos dias inventados por ti

Guardo-te no instante em que me calo
E não escuto o teu silêncio
Murmurado ao meu ouvido

Guardo-te nas rugas do nosso leito
Nas ondas sedentas
Das torrentes rubras de paixão

Guardo-te nos acordes sublimes
Das notas produzidas no corpo
E das suaves melodias geradas em mim

Guardo-te na saudade ressaltada
E no suspiro dos dias de repouso
Que acarinham o vazio deixado por ti

Guardo-te no travo da minha boca
Num sabor doce que me desperta
A vontade louca de te amar


Maria escritos
Todos os Direitos Reservados

Toca-me


Toca-me!
Toca meu corpo,
Instrumento que espera
Pelo suave toque dos teus acordes

Toca-me!
Toca meu corpo,
Violino teu no timbre exacto
Suspirando notas em perfeita harmonia

Toca-me!
Toca meu corpo,
Conduz teu corpo sobre o meu
Que vibra à espera do primeiro tom

Toca-me!
Toca meu corpo,
Arranca de mim as mais belas notas
Para entoar segregadas aos teus ouvidos

Toca-me!
Toca meu corpo,
E cala a minha boca com um beijo teu
Acolhe meu corpo que tua boca recebeu

Maria Escritos
Todos os Direitos Reservados

17/11/09

Sorriso



Quero um sorriso
Coberto de orvalho fresco da manhã
E um breve aroma adocicado saltando no ar

Quero um sorriso
Com olhar calado, admirando atentamente
A cumplicidade, muda, enfeitando as alvoradas

Quero um sorriso
Numa breve alegria suspirada ao ouvido
Como uma melodia versando no infinito

Quero um sorriso
Num esgar amplo e sincero
Assim sem mais nem porquê.

Quero um sorriso
Num rosto amigo, destemido e ousado
Que se invente com o meu


Maria Escritos

09/11/09

As minhas ultimas palavras

“Há um olhar suspenso na chama tremeluzente da escuridão do quarto, que trespassa o silêncio cerrado parado no ar. Voltam as lembranças dos problemas por resolver. E tantos que eles são. Sinto-me cansada e derrotada. A insatisfação ocupa agora a minha essência, que, pesadíssima luta para se arrastar e fugir. A minha cabeça anda ás voltas e o corpo batalha para se mater erguido. Custa-me raciocinar, todos os meus pensamentos se inclinam para o mesmo lado. Será talvez o fardo que agrilhoado a mim pende sempre para esse mesmo lado.
Eu quis ser livre, ser leve, quis ter um arco-íris presente e constante, mas as sombras teimam em tirar-me os sonhos que consigo construir. Deus deu-me um anjo, e nem a esse anjo eu consigo fazer feliz. Há um buraco negro esculpido no meu ser, uma mancha talhada com mestria pela mão de quem me deu a vida. Não aguento mais este peso que me sufoca, nem este ar que respiro e me queima as entranhas. Não aguento o bater deste coração que quase me perfura o peito, em constante sobressalto.
Não aguento ter de dizer “não” tantas vezes, nem consigo olhar nos olhos da minha filha e dizer que não lhe posso dar isto ou aquilo, por causa de outro alguém.
Estou cansada da família, estou cansada do trabalho, estou cansada da vida e estou farta de tudo. Já não consigo sofrer mais nem fazer sofrer por minha causa Já não posso com o mundo às costas. Sou um nada e um nada serei. Sou uma cobarde e uma cobarde serei. Sou uma fraca e uma fraca serei. Hoje já não sou nada, e tudo de nada serei.

Deixo algumas palavras escritas dirigidas a algumas pessoas:
À minha princesa, peço-lhe que me perdoe, mas eu não consigo olhar mais a carinha dela e ver as lágrimas a escorrer pela cara abaixo de todas as vezes que não consegui estar á altura das suas necessidades.
À minha mãe, agradeço por matar os filhos em vida.
Ao meu pai, peço-lhe que cuide da minha filha.
Ao meu amor, peço-lhe que acenda uma vela por mim que me ilumine o caminho do céu.

Faz-se luz nos mistérios que jazem latentes na força que se conserva escondida e albergada no meu Ser. Eu não já consigo andar aqui pois a luz enfraquece com o ataque das sombras que habitam em mim.


Paula Moreira / Maria Escritos

05/11/09

Ternura dos 70


Dispersa num olhar amadurecido
Vai contra o tempo que lhe escapa
Num sopro envelhecido
Manchando a cabeleira branca.

Escuta as vozes do vagar
Que ao ouvido, sussurrando baixinho
Relembram que no marchar
Fica muito de seu pelo caminho.

Venham alegrias e tristezas
Galardoadas com valentia
Não te ceifa a brancura das madeixas,
escuras, como foram um dia.

Envolves ainda num abraço
Com a audácia de antes
E repartes do teu regaço
Sorrisos estonteantes.


Maria Escritos

04/11/09

Orgulho e preconceito (na 1ª pessoa)



Há poucos anos tentei suicidar-me. Foram tempos críticos e impetuosos os que vivi. Carreguei um oceano enfurecido dentro de mim; a minha razão lutava contra as minhas emoções que enraivecidas se atiravam contra as paredes do meu cérebro e me faziam entontecer, mais parecendo uma vaga a desconchavar-se nas rochas.
Há alguns anos atrás eu estava adormecida e ia perdendo a minha razão!

Recordo-me de ter acordado e de ser esmagada com a realidade; da aflição lembrada de poder ter perdido a minha filha. Recordo-me da minha vergonha perante os meus actos, e, do sentimento de culpa que carreguei agrilhoado no meu coração, tal véu que não me permitia descontrair.

Muitos foram os que se afastaram de mim chamando-me de louca, e, tantos outros foram os que me pré-conceituaram.

O terror de perder a minha filha, caso eu procurasse ajuda profissional, impediu-me de procurar o médico para me curar da minha depressão, do meu esgotamento. E ao invés disso, recolhi-me aos meus sentidos, absorvi-me na minha escuridão, e remexi nas minhas feridas.
Li tudo o que encontrei sobre os estados da Alma. Estudei imenso sobre “esta” matéria e então tomei a decisão de vomitar tudo, transcrevendo para o papel todas as razões que originaram os meus actos.

Foram tantas as páginas que escrevi que só ao fim de seis meses consegui terminar a minha catarse, que apelidei de “o meu livro”. E quando terminei senti que estava livre e a minha essência tornou-se leve.

Este meu livro que tanto me fez chorar, assim como a quem o leu, foi outrora a minha vergonha e culpa pelos erros cometidos e ali escarrapachados.

Hoje, completamente restabelecida, (embora alguns achem que não), aponto esse meu livro como um ponto de referência importantíssimo na minha vida.
Quatro anos volvidos eis-me aqui erguida perante vós, cheia de força e garra pela vida a falar abertamente sobre preconceito – o meu preconceito.

Quatro anos depois de jorrar “o meu livro” falo dele com carinho, pois foi ele que me catapultou para o lugar onde estou hoje. Exactamente por ter vomitado o meu preconceito eu não quero voltar a agir igual.

Hoje, sei onde estou e também sei quem sou. Hoje estou despertada.
Sou um ser humano cheio de virtudes e defeitos tal como todos os outros. Só que agora aprendi que não me importam as opiniões alheias. Não podem ditar a minha vida; ninguém pode corromper a minha mente, porque eu sou apenas eu e mais ninguém. Assumo a minha condição na sua totalidade.

E é com orgulho que o afirmo.


Maria Escritos

Antes de ti


Antes de amar-te, amor
Não havia nada,
Era apenas uma insignificância
Tropeçando nesta estrada.

Mas algo se alisou com as palavras
Iluminou-se com a tua figura.
Deste-me asas e floriste-me
Envolvendo-me em laços de ternura.

Ao meu lado jaz, uma luz constante
Brilhando sempre, sem parar,
È a chama do meu coração
Que despertou para te amar


Maria Escritos

03/11/09

Happy Ending



No início, era apenas uma história de amor como outra qualquer. Apaixonados e sedentos de amor, juntaram os trapinhos e viviam como marido e mulher. Para quê complicar indo casar á igreja quando bastava o amor que sentiam um pelo outro para serem felizes.

Ao fim de uns meses, ele ainda sem trabalho, começou a deixar-se ficar por casa alegando doença. Ela, já grávida de 3 meses e meio, era forçada a levantar-se cedo para ir trabalhar. Ele não arredava pé da cama, e ela sem enjoos matinais começou a enjoar aquele amor que se servia dela para as suas necessidades.

Os enjoos da relação depressa deram lugar a uma insatisfação e desilusão enorme e passaram a dormir separados. Ele dormia na cama, ela dormia no chão.

Um dia, chegada do trabalho, ela começou a preparar o jantar, como de costume. Servida a refeição, iniciaram mais um momento de diálogo surdo como vinha sendo hábito. Tocaram á porta. Era para ele. Alguém que vinha reclamar uma divida que ele havia contraído e exigia que ela lhe pagasse tostão por tostão. Resoluta avançou na direcção dele e obrigou-o a ir resolver aquela contenda ali mesmo, naquela hora. Que não se atrevesse a andar a comer do suor dela e ainda obriga-la a passar vergonhas daquele tamanho. Num impulso de raiva tirou-lhe o prato da frente e jogou a comida no caixote do lixo.
- Aqui não comes mais, disse-lhe ela.

Quinze dias de passaram, repletos de silêncio e mudez. A distância estava mais entranhada entre os dois do que se podia imaginar. Mas ela tinha um plano.
Ligou á mãe dele e convidou-a a jantar lá em casa, sim naquele mesmo dia.
Durante o jantar, contou a história toda, afirmando que não sustenta filhos dos outros. Que a pensar em filhos, pensa apenas naquele pequeno ser que começava a crescer dentro de si. Que a querer conforto, exigia o calor da sua cama de volta pois o chão é duro demais e não indicado a uma grávida. Além do mais, ele estava a dormir na cama que lhe pertencia.

Deu o jantar por terminado quando se levantou e decidida lhe foi fazer as malas para que a mãe o levasse para sua casa. A casa era sua, as decisões finais também. Ponto final. Era assim que ia devolver a ordem à sua vida. Cada macaco no seu galho.

Passaram-se os meses e a gravidez terminou num parto prematuro. Nasceu uma menina, pequenina e franzina, de cor arroxeada e cheia de penugem, características típicas dos prematuros. O factor excepcional é que a menina de 32 semanas de gestação, nasceu a respirar sozinha sem precisar de auxílio de máquinas. A vida surgia assim cheia de garra e vontade de vencer. E assim tem sido. Após o parto ele não quis ver a filha e passados dois anos teve a honestidade de dizer que não ia ver a criança porque nasceu menina e ele queria um menino… E assim tem sido ao longo de alguns anos.
Um pai que se esquece da filha, tal como se esquecia de ir trabalhar, tal como se esqueceu de muitas coisas.

A história chegou até mim como sendo um caso de amor. Ele vivia a pensar nela e procurava a sua presença até mesmo nas mais pequenas memórias ao ponto de nem se conseguir levantar. Ela, recordava com ternura todos os minutos de sossego que ele lhe conseguia dar. A criança? Vive feliz e de bem com a vida pois tem um colo onde pode chamar “lar”.



Maria Escritos